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Familiares das vítimas do 27 de Maio desapontadas com recusa do ministro em abordar o "caso das ossadas"


Filha de uma das vítimas diz que governo “continua a bricanr” com sentimentos dos familiares.

O ministro da Justiça e Direitos Humanos de Angola, Marcy Cláudio Lopes, recusou-se a dar qualquer explicação sobre os resultados de testes de ADN, que confirmaram que ossadas entregues a algumas famílias das vítimas do 27 de Maio não são dos seus parentes.

Ministro angolano recusa-se a falar sobre escândalo das ossadas de vítimas do 27 de Maio – 2:26
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Familiares consideram o erro como um “balde de água fria” e exigem explicações às razões da morte dos seus entes queridos.

Marcy Cláudio Lopes, que é também o coordenador da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), recusou gravar entrevista nesta terça-feira, 28, quando interrogado sobre o assunto, remetendo para o futuro um eventual esclarecimento em torno do assunto.

Os resultados dos testes estão a ser vistos como um sério embaraço para o Presidente da República, João Lourenço, quem participou em cerimónias com familiares das vítimas, num passo de reconciliação.

João Lourenço fala à nação sobre o 27 de Maio de 1977
João Lourenço fala à nação sobre o 27 de Maio de 1977

Josefa da Silva, filha de António Lourenço Galiano da Silva, conhecido por Galiano Kitumba, um dos nomes citados por João Lourenço, aquando do reconhecimento do massacre de 27 de Maio, disse que “o sentimento que eu tive quando ouvi essa notícia foi como se me caísse um balde de água fria na cabeça”.

“Desde o inicio nunca tive confiança na CIVICOP, mas quando o Presidente falou a esperança voltou, e pensei que pelo menos íamos acabar com o martírio de ter crescido como órfã”, disse.

Josefa da Silva exige esclarecimentos sobre as razões do assassinato do pai.

“Não sei até este momento quais foram os motivos do Governo brincar com os sentimentos das pessoas lesadas, continuamos a querer saber o motivo da morte dos nossos pais e de saber o por quê de não ter havido um julgamento se até os mercenários o mereceram”, disse, lembrando assim o julgamento de vários mercenários capturados em Angola no início da guerra civil em 1975.

“São 45 anos de silêncio que precisamos quebrar, eu até hoje continuo na esperança de antes de morrer saber os reais motivos que levaram à morte do meu pai”, concluiu Josefa da Silva.

Para Silva Mateus, membro da Fundação 27 de Maio, a CIVICOP trabalhou bem até antes das eleições de 2022, mas “de lá para cá mais nada é feito”.

Mateus diz que existem “várias questões que mancham o processo levado a cabo pela Comissão”.

Refira-se que, em 2021, o Governo criou uma Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), presidida pelo então ministro da Justiça de Angola, Francisco Queiroz, que chegou a entregar ossadas a familiares de algumas das vítimas.

A 26 de Maio de 2021, véspera do 44º aniversário do massacre de 1977, o Presidente João Lourenço pediu perdão.

"Não é hora de nos apontarmos o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias", afirmou o Presidente da República.

Não se sabe ao certo quantas pessoas foram mortas após os aconecimentos de 27 de Maio de 1977 mas algumas estimativas apontam até 30.000 vítimas.

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